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HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO PEDRO – DECADÊNCIA MATERIAL X BUSCA PELA SANIDADE


Marianita Kutter Ortaça – Psicóloga
Colaboração e fotos: Leonardo Sarturi
Segundo a secretaria de saúde do estado do Rio Grande Sul, o Hospital Psiquiátrico São Pedro, nomeado Hospício São Pedro em homenagem ao padroeiro da Província, foi a primeira instituição psiquiátrica de Porto Alegre e da Província de São Pedro. Fundado em 13 de maio de 1874, foi inaugurado somente dez anos após, no dia 29 de junho, data consagrada a São Pedro. Foi o sexto asilo/hospício de alienados durante o Segundo Reinado no Brasil (1841-1889). Designado como Hospício São Pedro até 1925, passou a ser chamado Hospital São Pedro até 1961, quando então assumiu a atual identidade de Hospital Psiquiátrico São Pedro.
Ao visitar o local, no início do corrente mês, percebemos que o mesmo encontra-se em total decadência Parece um imenso abrigo precário.
            Ao passar em frente ao prédio, a impressão que se tem é de algo riquíssimo, grandioso, que apresenta manchas do tempo, porém, com um campo muito verde e árvores altivas que se elevam quase ao céu.




            E realmente foi algo grandioso (em recursos financeiros e arquitetônicos), tendo sido inaugurado pela princesa Isabel.
         Ao entrar no interior daquela imensa construção nos deparamos com paredes cobertas por musgos, infiltrações, um completo abandono.



            Se o modelo hospitalocêntrico está caindo em desuso, que bom, eu concordo. Mas deixar as pessoas que permanecem no hospital sem recursos, deixar que uma obra de tamanho valor histórico se torne em ruínas com o tempo, sendo que ali poderia ser feito algo pela melhora de tantas pessoas, não dá pra concordar. O São Pedro poderia ser um grande centro de atenção psicossocial, atenção à saúde mental de tantos moradores de Porto Alegre e região - isso se houvesse verba para reerguer o que caiu e preservar o que ainda está em pé (paredes, pacientes, funcionários).

 O movimento da luta antimanicomial há mais de duas décadas clama pelo fim do modelo hospitalocêntrico, dos manicômios. Segundo Grumpeter, Costa & Mustafá (2007), no Brasil, apesar dos avanços legislativos no campo da saúde mental a cultura da impunidade quando diz respeito violação dos direitos dos portadores de transtornos mentais permanece, ou seja, ainda tem muito para mudar.

Tem sido importante a atuação do movimento de luta antimanicomial no sentido de estar pressionando para a efetivação da Reforma Psiquiátrica com o conseqüente fim
dos hospitais psiquiátricos e fortalecimento da rede de atenção à saúde mental de base
comunitária e atenção à saúde de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema
Único de Saúde (SUS). Além disso, a atuação do referido movimento é relevante para a
luta pelos direitos dos portadores de transtornos mentais, sobretudo no que diz respeito
às denuncias da violação de tais direitos. (GRUMPETER, COSTA E MUSTAFÁ, 2007).

Um sentimento esquisito toma conta da gente ao caminhar pelas dependências do hospital. Parece que aquelas paredes falam, elas retratam o sofrimento e a busca incessante, quase louca de se conseguir um pouco de sanidade, um pouco de alegria e esperança naquele lugar.

 


Por onde se passa certos detalhes nos chamam a atenção. Mensagens profundas, textos cheios de sentimentos, sem falar na arte da pintura, que alguns internos desenvolvem com maestria.





Uma curiosidade intrigante faz com que a nossa mente produza um filme, que mostra o  passado daquelas paredes falantes. Tratamentos antigos, terapia de choque, eletroconvulsoterapia, camisa de força, falta de liberdade, grades por todos os lados.


Porque os ditos  loucos deviam viver como prisioneiros, sem serem criminosos? Quem disse que o isolamento poderia curá-los, ou melhorá-los? O que essas pessoas precisam é reinserção social, recuperar a autonomia, dignidade,  se sentirem úteis ao mundo, recuperar sua capacidade laborativa, capacidade de viver...
O sujeito que perde a liberdade e a dignidade perde tudo.

Aquele modelo de manicômio, ou qualquer outra denominação que o São Pedro teve antigamente, não vale mais. Devemos ser uma sociedade que acolhe e não que discrimina e que segrega.
Não há melhora num ambiente que não seja minimamente promotor de bem-estar.
Nos dias de hoje, há mais de 200 internos agudos, ou seja, pessoas que “moram” no hospital, a maioria abandonadas pela família ou que nem família tem e, que se saíssem dali, iriam para a rua. Essa é a maior preocupação. 
Há rumores de que o hospital pode fechar a qualquer momento. O governo não manda verba, os trabalhadores são mínimos, as condições são precárias. O que resta? A força de vontade de algum ou alguns colaboradores que nasceram com a vocação de ajudar, pessoas que tentam com os mínimos recursos materiais transformar aquele lugar em uma passagem suportável, como uma colaboradora (talvez voluntária), que tratava de forma muito carinhosa um senhor tentando caminhar com um andador. Ele tinha um passarinho no ombro e um sorriso no rosto, provocado por aquela cuidadora.

Fica aqui nosso apelo aos governantes para que olhem para essas pessoas, mesmo sabendo que a maioria não vota.

Referências:
BASAGLIA, Franco. A instituição negada. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
Grumpeter, P; Costa, T; Mustafá, M. O MOVIMENTO DA LUTA ANTIMANICOMIAL NO BRASIL E OS DIREITOS HUMANOS DOS PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS. Anais do II Seminário Nacional Movimentos Sociais, Participação e Democracia, Florianápolis, 2007.

Comentários

  1. Essa Matéria foi publicada no Jornal Missioneiro São Luiz Gonzaga no dia de Hoje.E no facebook no inicio do mes as fotos e cometários!

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